Open Banking e Open Finance: Entenda Essa Nova Tecnologia e Sua Regulamentação no Brasil
Por Vanessa Vasconcellos e Daiane Soares
Nos últimos anos, o termo Open Banking tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões sobre o futuro do sistema financeiro. Essa nova tecnologia, também conhecida como Open Finance, representa uma transformação significativa na forma como os dados financeiros dos clientes são utilizados e compartilhados entre instituições autorizadas. Mas, afinal, o que é exatamente o Open Banking, quais são seus benefícios e riscos, e como está regulamentado no Brasil?
O Que é Open Banking?
Open Banking, ou sistema financeiro aberto, é um modelo que permite ao cliente compartilhar, de forma segura e com total consentimento, suas informações financeiras com diferentes instituições — como bancos, fintechs e outras empresas do setor. A grande inovação está no fato de que os dados pertencem ao cliente e não à instituição financeira, o que devolve ao consumidor o controle sobre seu histórico bancário.
Com isso, é possível, por exemplo, que um cliente transfira o seu histórico de bom relacionamento de um banco tradicional para uma fintech, a fim de obter melhores condições de crédito, taxas mais atrativas ou serviços personalizados.
Por Que o Open Banking Foi Criado?
Historicamente, o relacionamento entre clientes e instituições financeiras era restrito, dificultando a mobilidade e a concorrência no setor. Um cliente que mantivesse um bom histórico com um banco durante 20 anos teria dificuldades em comprovar esse relacionamento ao migrar para outra instituição. O Open Banking surge justamente para resolver esse problema.
De acordo com o artigo 3º da Resolução Conjunta nº 1, de 4 de maio de 2020, o sistema foi criado para:
I – Incentivar a inovação;
II – Promover a concorrência;
III – Aumentar a eficiência do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema de Pagamentos Brasileiro;
IV – Promover a cidadania financeira.
Como Funciona na Prática?
Com o Open Banking, os clientes podem movimentar suas contas por meio de diferentes plataformas, além do site ou aplicativo da instituição financeira. O consentimento para o compartilhamento de dados pode ser concedido e revogado digitalmente, com poucos cliques, o que proporciona segurança, agilidade e conveniência.
O Reino Unido foi pioneiro na implementação dessa tecnologia, seguido por países como Austrália e Índia. O Brasil também começou a adotar o modelo recentemente, enquanto outras nações, como Estados Unidos, Canadá e Rússia, ainda estudam formas de integrá-lo aos seus sistemas financeiros.
Benefícios e Desafios
Entre os principais benefícios do Open Banking estão:
1 – Maior concorrência entre instituições financeiras;
2 – Ofertas personalizadas de produtos e serviços;
3 – Facilidade de migração entre bancos e fintechs;
4 – Empoderamento do consumidor, que passa a controlar seus próprios dados.
Entretanto, os desafios também são relevantes. O uso indevido dessa tecnologia pode acarretar riscos financeiros, especialmente em um país como o Brasil, onde a educação financeira ainda é precária. Muitos brasileiros não têm controle do orçamento, carecem de reservas de emergência e não se preparam adequadamente para o futuro.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), a proporção de famílias com contas a vencer caiu de 77,0% em novembro para 76,7% em dezembro de 2024. Essa redução, no entanto, pode estar mais ligada ao aumento da taxa Selic e da inflação do que a melhorias na gestão financeira pessoal.
A Regulamentação do Open Banking no Brasil
Apesar da importância do tema, o Brasil ainda não possui uma lei específica sobre Open Banking. Atualmente, o sistema está regulamentado por normas como:
– Resolução Conjunta BCB/CMN nº 1/2020;
– Circular BCB nº 4.015/2020;
– Resolução Conjunta nº 4, de 24 de março de 2022.
Essas normas, no entanto, são gerais e não abordam de forma detalhada as implicações dessa tecnologia. Também não há uma integração clara com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), criada em 2018, o que gera uma lacuna regulatória importante.
Entre os principais riscos da ausência de legislação específica estão:
– Vazamento de dados;
– Fraudes e golpes;
– Fragmentação da experiência do cliente;
– Dificuldades de conectividade entre plataformas.
Considerações Finais
O Open Banking representa um avanço importante para o sistema financeiro brasileiro, promovendo transparência, mobilidade e concorrência. No entanto, seu sucesso dependerá da educação financeira da população, do fortalecimento da segurança digital e da criação de um arcabouço legal mais robusto.
Ainda estamos nos primeiros passos da implementação desse ecossistema de compartilhamento de dados. Para que o Open Banking se consolide como uma ferramenta de inclusão e desenvolvimento financeiro, será fundamental que seu uso seja feito com moderação, consciência e responsabilidade — tanto por parte dos consumidores quanto das instituições envolvidas.
